domingo, 15 de agosto de 2010

CAUSOS DO TIO LELO

No centro da mesa: D. Carola e Tio Lelo - Foto IGdeOL, 1994


O primeiro contato que tive com Tio Lelo foi quando assumi a gerência da agência do Banco do Brasil em Canguçu, no ano de 1992.

A recepção que me foi preparada por alguns clientes e colegas do Banco mantêm-se gravada em meu coração.

Informaram-me de início que ali naquela localidade todos os gerentes de banco deveriam andar armados pelo perigo constante de sermos abordados por pessoas nada amistosas. Como lhes disse que não possuía arma, sugeriram-me acompanhá-los até a residência de um senhor que vendia revólveres importados por preço bastante acessível, inclusive com registro e porte de arma. O empresário Paulo Bettin e o colega José Hamilton ficaram encarregados de me acompanhar até a fazenda onde poderia apreciar e escolher a arma do meu agrado.

No dia previsto fui apanhado pelos novos amigos que fizeram questão de me conduzir ao local no automóvel do Sr. Paulo Bettin.

Lá chegando fomos amavelmente recebidos pela simpática Dona Carola e pelo Tio Lelo, que nos conduziram à sala de visitas, onde se desenhou o fato que narro no poema logo a seguir.

Posteriormente, com a convivência naquela localidade, melhor conheci a personalidade alegre, jovial e com permanente sorriso nos lábios, que se desdobrava em contar causos e anedotas sobre a vida e os costumes locais.

De fato, Tio Lelo, tomava seu banho nas águas frias da lagoa, recolhia o gado de sua estância cavalgando uma moto CG-125; possuía um copo adaptado para o vinho inexistente e uma caixa, entre muitas, com um boneco vestido de padre que ao se abrir fazia saltar o falo de madeira trabalhada.

Fazia muitas brincadeiras com as pessoas que chegavam a Canguçu. Isto já com oitenta anos de idade.

Hoje, Tio Lelo, encontra-se no Oriente Eterno, contando seus causos para os anjos e querubins.

CAUSOS DO TIO LELO
(IGdeOL, Canguçu, 1993)

Tio Lelo, me conta um causo,
hoje quero ser feliz!

Tio Lelo, com teu sorriso
zombeteiro, de guri,
e os teus olhos tão brilhantes
que refletem a todo o instante
a tua alma juvenil,
contagiam meu espírito
e envolvem a minha mente
a volver pelo infinito!

Vejo ao final das tardes,
nas minhas caminhadas,
quando revejo a manhã,
o teu lago de águas claras
gelado pelo inverno
e na superfície plana
um orifício real
onde tu tens a entrada
pro teu banho matinal!

E naquela madrugada
ao nadar por duas horas,
retornas tateando as bordas
descobrindo com as mãos
a saída na entrada.

Depois, bem depois,
lá pelas dez horas,
chega um homem com denodo
prá comprar revólver novo,
importado, bem barato
e a Carola serve no ato
picado de queijo e mate
e afinal como arremate,
vinho verde, lá do Porto...

E o índio afobado
emborca a taça na boca
que de vinho não em nada.
A taça está bem fechada
e o vinho é só enfeite...
Mas serviu para o deleite
e para um sorriso velado!

Em seguida apresenta a caixa
do revólver importado
e aquele pobre coitado,
já faceiro por comprar
arma boa, registro e porte,
por um preço tão barato
leva um susto quando abre...
Salta a “pistola do padre”
na cara do desgraçado!

Sou feliz hoje, Tio Lelo,
por viver este teu causo!

Um comentário:

  1. Quando eu era criança, vivi por um tempo em Pelotas e por quase um ano em Canguçu! Hoje, senti saudades daquele tempo e procurei algo sobre Canguçu na internet. Entrei no seu blog
    e foi tão bom ler o poema.Minhas lembranças de
    Canguçu não são muito nítidas, mas sempre me lembro do hotel Santa Maria, onde morei
    com minha família por um tempo.
    Talvez um dia eu volte a ver canguçu, estou tão
    longe do Rio grande do Sul, mas jamais me esqueço deste pedacinho lindo da minha vida: Canguçu....abraços, Hanna

    ResponderExcluir