DEDICADO A MINHA MÃE
NO JARDIM SUSPENSO DOS MORTOS
(IGdeOL)
Sobressalto!
Minha mãe chora copiosamente sobre o meu cadáver.
Lágrimas umedecem o paletó preto que, lembro-me vagamente, aquele homem de face pálida e aparência distinta havia me vestido quando ainda eu jazia no frio mármore do necrotério.
Tento articular palavras de consolo à minha aflita mãe, mas os lábios que sinto ressecados não obedecem ao comando do meu cérebro. Não consigo desviar a atenção do perfil que se depara à minha frente.
Flexiono os braços para abraçá-la e eles não se movimentam.
Ouço à distância o murmúrio do vento e cânticos sonoros que aguçam a minha mente em redemoinho violento.
Não tenho noção de tempo. O lugar em que me encontro parece-me frio e terrível. Medo e pavor apoderam-se do meu pensamento. Sinto-me perdido nos confins do Universo e as lágrimas que minha mãe derrama sobre o paletó vão pouco a pouco adentranda no casimira do seu feitio, aquecendo meu coração inerte.
Sinto-me protegido por agradável sensação de afeto e me dou conta que não mais faço parte do mundo dos mortais e que sou mais um vivente no desconhecido mundo dos mortos.
Que serei nesta estranha paragem com o corpo sem ação e sendo corroído pelos vermes que deslizam nas minhas entranhas, sem ao menos pedirem-me licença para tanto?
Ah, se eu soubesse!
Com certeza teria tido mais carinho para com Dona Alzira, minha querida mãe, durante a efêmera vivência terrestre.
Agora somente as suas lágrimas são os medicamentos que amenizam as dores das feridas que minúsculos seres fazem na minha carne e nas minhas entranhas.
Silencio...
Silêncio completo!
Impactante para mim, mas maravilhosas as palavras do poeta, meu pai!
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