domingo, 16 de maio de 2010

FILOSOFANDO


(IGdeOL)

Caramba, que manhã gelada
deste inverno frio e matreiro!...

A geada, na madrugada,
no seu trabalho de fada
pintou de branco o potreiro!

E no tranco de tropeiro
com seus raios vivos de luz
o sol garboso aparece
e, pouco a pouco, conduz
na sua eterna rotina
a mudança, sem pilhéria,
de transformar a matéria
na forma da Lei Divina...

O orvalho congelado
ao toque do sol alçado
límpidas lágrimas derrama
que vão correndo na grama
do descampado sinuoso.

E no calor luminoso
do sol sublime do dia
o sólido gelo do orvalho
na messe desse trabalho
retorna ao estado gasoso
e outro ciclo se inicia.

Assim é a vida, assim sou eu,
porção de orvalho congelado,
no potreiro do mundo espalhado
aguardando do sol o apogeu
para no momento oportuno
desfazer-me em sutis substâncias,
volitar e adejar por ditosas distâncias
livre das amarras deste mundo soturno!

sábado, 8 de maio de 2010

DIA DAS MÃES


DEDICADO A MINHA MÃE

NO JARDIM SUSPENSO DOS MORTOS

(IGdeOL)


Sobressalto!

Minha mãe chora copiosamente sobre o meu cadáver.

Lágrimas umedecem o paletó preto que, lembro-me vagamente, aquele homem de face pálida e aparência distinta havia me vestido quando ainda eu jazia no frio mármore do necrotério.

Tento articular palavras de consolo à minha aflita mãe, mas os lábios que sinto ressecados não obedecem ao comando do meu cérebro. Não consigo desviar a atenção do perfil que se depara à minha frente.

Flexiono os braços para abraçá-la e eles não se movimentam.

Ouço à distância o murmúrio do vento e cânticos sonoros que aguçam a minha mente em redemoinho violento.

Não tenho noção de tempo. O lugar em que me encontro parece-me frio e terrível. Medo e pavor apoderam-se do meu pensamento. Sinto-me perdido nos confins do Universo e as lágrimas que minha mãe derrama sobre o paletó vão pouco a pouco adentranda no casimira do seu feitio, aquecendo meu coração inerte.

Sinto-me protegido por agradável sensação de afeto e me dou conta que não mais faço parte do mundo dos mortais e que sou mais um vivente no desconhecido mundo dos mortos.

Que serei nesta estranha paragem com o corpo sem ação e sendo corroído pelos vermes que deslizam nas minhas entranhas, sem ao menos pedirem-me licença para tanto?

Ah, se eu soubesse!

Com certeza teria tido mais carinho para com Dona Alzira, minha querida mãe, durante a efêmera vivência terrestre.

Agora somente as suas lágrimas são os medicamentos que amenizam as dores das feridas que minúsculos seres fazem na minha carne e nas minhas entranhas.

Silencio...

Silêncio completo!